quarta-feira, 14 de março de 2012

A vida.................

A vida pode ser mais leve. Mais lúdica. Se eu não brincasse, enlouqueceria. Não posso nem sei ser essa imagem que tanta gente congelou a respeito do que é ser adulto. Passo longe desse freezer. Quero o calor da vida. Quero o sonho e a realidade melhor que ele puder gerar. Quero alguma inocência que não seja maculada. Quero descobrir coisas que não suspeito existirem e, que para minha surpresa, têm significado para o meu coração. Adulta, quero caminhar de mãos dadas, vida afora, com a criança que me habita: curiosa, arteira, espontânea.

Ana Jácomo

quinta-feira, 8 de março de 2012

MULHERES



As vezes inocentes

Revelam-se um furacão

Com apenas um olhar

Tem a chave da paixão



Inconstantes como as nuvens

Imprevisíveis como o tempo

O desejo da mulher

Queima o corpo por dentro



Seu olhar um mistério

Sua boca um paraíso

Perigosas são aquelas

Que superam o juízo



E o segredo que as envolve

É o que todo homem quer

Desvendar o grande mapa

Da alma da mulher

Rogério Magalhães de Araújo Nascimento

Homenagem a vocês mulheres que são a parte mais sofisticada, sensível e bela de toda a criação!

quinta-feira, 1 de março de 2012

RITO DE INVOCAÇÃO

                       
                                 Madrugada, ouço ecos lá fora, e eu aqui a evocar uma parte de mim que a muito não me visita. Alguém que murmura baixinho, declama versos com atitude e paixão, e tece lágrimas densas de emoção. Alguém que passeia soberano pelas noites, confidente dos loucos, parceiro dos ébrios e amante das enamoradas.
                                
                                 Vive do orvalho virgem que cai de cada tempo. Lê as escrituras sagradas do grande livro da natureza. Declama poesias que o vento sussurrou. Sorri a gargalhada das águas a desbancar de rochedos, cochichando por entre matas e se escondendo em grutas para contar segredos etéreos e vis.

                        Enxerga como que levado pelo vento, a superar mil grilhões; a passar terra por terra, água por água, na pressa de quem tem como tempo a medida de um instante.

                        Ouve como que grudado a terra, distingue cada timbre, cada toque, cada som, cada avalanche, cada terremoto que estremeça o mundo, e que entretanto pode ser retido com uma simples mordida nos lábios...... e esta quando bem administrada cela a explosão de um vulcão.

                        Espero este ser e nem me dou conta de que ele já me possui, pois veio ao me adivinhar a proclamá-lo sem pudor, e através de seus sentidos me tomou com seus tais, a derramar sobre as folhas pequenos cristais:

                        Voar a loucura de mil eras em busca de um mesmo devir, de uma louca paixão, de uma forte energia, de um grande tesão.
                        Sentir-se conectado a especialidade da criação e banhar-se nela a escrever sem medidas, sem tempo, sem data, só movimento, magia, exclamação!! Se soltar como quem beija na rua ao meio dia em plena segunda - feira. Como quem se abraça como se o último instante fosse, a viver em um universo de infinitas potencialidades.
                        E rir, como que ganha ao prêmio quase que por brincadeira, e se vê livre de posse das amarras, e sente a importância estupenda do instante em que se descobre o quanto é valioso este segundo: O AQUI. Que Lateja dentro do peito da gente, para que se erga um altar com extrema suntuosidade para cada grande, especial, pérfido, límpido, tenso, breve e livre segundo da vida. Eterno meio de se apreender o “INÍCIO” sem nunca mais temer o “FIM”!


Rogério Magalhães de Araújo Nascimento

10 conselhos de Carlos Drummond de Andrade a um escritor iniciante

 

Trechos da crônica A um jovem, publicada em A bolsa e a vida (1962):
1. Não acredite em originalidade, é claro. Mas não vá acreditar tampouco na banalidade, que é a originalidade de todo mundo.
2. Não fique baboso se lhe disserem que seu novo livro é melhor que o anterior. Quer dizer que o anterior não era bom. Mas se disserem que seu livro é pior que o anterior, pode ser que falem verdade.
3. Procure fazer com que seu talento não melindre o de seus companheiros. Todos têm direito à presunção de genialidade exclusiva.
4. Aplique-se a não sofrer com o êxito de seu companheiro, admitindo embora que ele sofra com o de você. Por egoísmo, poupe-se qualquer espécie de sofrimento.
5. Sua vaidade assume formas tão sutis que chega a confundir-se com modéstia. Faça um teste: proceda conscientemente como vaidoso, e verá como se sente à vontade.
6. Opinião duradoura é a que se mantém válida por três meses. Não exija maior coerência dos outros nem se sinta obrigado intelectualmente a tanto.
7. Procure não mentir, a não ser nos casos indicados pela polidez ou pela misericórdia. É arte que exige grande refinamento, e você será apanhado daqui a dez anos, se ficar famoso; se não ficar, não terá valido a pena.
8. Se sentir propensão para o gang literário, instale-se no seio de uma geração e ataque. Não há polícia para esse gênero de atividade. O castigo são os companheiros e depois o tédio.
9. Evite disputar prêmios literários. O pior que pode acontecer é você ganha-los, conferidos por juízes que o seu senso crítico jamais premiaria.
10. Leia muito e esqueça o mais que puder. Só escreva quando de todo não puder deixar de fazê-lo. E sempre se pode deixar.