quinta-feira, 1 de março de 2012

RITO DE INVOCAÇÃO

                       
                                 Madrugada, ouço ecos lá fora, e eu aqui a evocar uma parte de mim que a muito não me visita. Alguém que murmura baixinho, declama versos com atitude e paixão, e tece lágrimas densas de emoção. Alguém que passeia soberano pelas noites, confidente dos loucos, parceiro dos ébrios e amante das enamoradas.
                                
                                 Vive do orvalho virgem que cai de cada tempo. Lê as escrituras sagradas do grande livro da natureza. Declama poesias que o vento sussurrou. Sorri a gargalhada das águas a desbancar de rochedos, cochichando por entre matas e se escondendo em grutas para contar segredos etéreos e vis.

                        Enxerga como que levado pelo vento, a superar mil grilhões; a passar terra por terra, água por água, na pressa de quem tem como tempo a medida de um instante.

                        Ouve como que grudado a terra, distingue cada timbre, cada toque, cada som, cada avalanche, cada terremoto que estremeça o mundo, e que entretanto pode ser retido com uma simples mordida nos lábios...... e esta quando bem administrada cela a explosão de um vulcão.

                        Espero este ser e nem me dou conta de que ele já me possui, pois veio ao me adivinhar a proclamá-lo sem pudor, e através de seus sentidos me tomou com seus tais, a derramar sobre as folhas pequenos cristais:

                        Voar a loucura de mil eras em busca de um mesmo devir, de uma louca paixão, de uma forte energia, de um grande tesão.
                        Sentir-se conectado a especialidade da criação e banhar-se nela a escrever sem medidas, sem tempo, sem data, só movimento, magia, exclamação!! Se soltar como quem beija na rua ao meio dia em plena segunda - feira. Como quem se abraça como se o último instante fosse, a viver em um universo de infinitas potencialidades.
                        E rir, como que ganha ao prêmio quase que por brincadeira, e se vê livre de posse das amarras, e sente a importância estupenda do instante em que se descobre o quanto é valioso este segundo: O AQUI. Que Lateja dentro do peito da gente, para que se erga um altar com extrema suntuosidade para cada grande, especial, pérfido, límpido, tenso, breve e livre segundo da vida. Eterno meio de se apreender o “INÍCIO” sem nunca mais temer o “FIM”!


Rogério Magalhães de Araújo Nascimento

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