É com bons olhos e ares bem mais arejados que de outrora que vejo esta onda de protestos contra algumas autocracias no oriente médio.
Clamando por democracia, mesmo sem saber direito como ela funciona na prática, ou apenas protestando contra seus governos autoritários e corruptos que há anos se perpetuam no poder, o povo do oriente médio tem dado valorosa lição a todo o mundo: A de que a união, facilitada pelos instrumentos de comunicação social disponíveis pela internet, a coragem e a vontade de lutar pelos seus ideais e contra a corrupção, se agigantam até mesmo diante de seculares déspotas que há tempos governam com mãos de ferro e ribaltas manchadas de sangue.
É fato que não se sabe ao certo o quanto será viável e exitosa a implantação de regimes democráticos nestes países, nem tampouco qual será de fato a postura dos EUA em relação a esta fantástica onda de protestos, uma vez que este se divide entre o dilema de impulsionar o sonho antigo de propagar os ideais democráticos na região e o risco eminente de abalar suas relações com velhos aliados que estão sendo ou que poderão ser alvo destes levantes.
Da mesma forma não há como ignorar o quanto as diferenças culturais e religiosas entre o Ocidente e o Oriente tornam muito mais complicada a sedimentação de democracias com seus ideais liberais e emancipatórios na região.
O fato é que o oriente nunca viveu tempos de tamanha efervescência política, e ninguém que queira ser protagonista do incauto jogo político internacional, inclusive e principalmente os EUA, poderá ignorar o significado e a importância desta nova era para o Oriente. No entanto ainda em cima do muro, a “América” apenas pede calma aos governos envolvidos nos protestos, sob o vislumbre de corpos e sangue dos manifestantes.
Também é fato que dentre os países do Oriente que vivem abastecidos por “petrodólares”, apenas um está imerso nesta atual onda de protestos, assim é inegável que uma melhor condição econômica, mesmo que também acompanhada de uma imensa disparidade entre ricos e pobres, ainda os protegem de tais movimentos revolucionários.
No entanto ao meu ver, tal calmaria é passageira, pois assim como não conseguiram parar os protestos tentando calar os Facebooks, Orkuts e Twiters da Net, também não conseguirão parar as brumas que anseiam por liberdade, participação e ética política nos corações do oriente, afinal, o impulso alado vive guardado no mais servil, abnegado e oriental miocárdio humano.